Segunda-feira, 14 de março

Um passeio solitário em um lugar tipicamente identificado com o imediatismo do tempo e a efemeridade das pessoas e das relações por elas tecidas às vezes é tudo do que se precisa para respirar a solidão, "que poeira leve"... Fui ao shopping resolver pendências do cartão de crédito - o dinheiro de plástico da sociedade idem -, ou seja, para alguém que faz da crítica uma atividade prazerosa: eis aí um prato fundo "com toda a fome que há no mundo". Para minha surpresa (ou decepção?) não houve aborrecimentos. Almocei yakisoba. Piruei um pouco e !pasmém!: parei diante da loja da Kipling e fiquei a reparar nos modelos e preços. Assisti ao filme "O Discurso do Rei". Um ser humanao que estava na fileira de trás do cinema num determinado momento do filme disse: "Bixa, ele arrasa com a cara do Rei". Dei uma risada. O filme foi interessante, embora estivesse com um pouco de sono e a poltrona parecia desconfortável... coisas de quem vai ao cinema sozinho sem ter com quem compartilhar ombros e abraços... Num dado instante um certo alguém que, como um samba de Noel Rosa, "não tem tradução" acarinhou meu rosto: era ela, aquela que só existe em português, era a saudade com "seu vestido vermelho e a sua boca", a mesma que vive a perguntar "mas quem disse que eu te esqueço" e me vira pelo avesso e "que revira meu avesso". Ao final, respirei fundo a "poeira leve", olhei ao redor e como ninguém me observava: abri meu melhor sorriso. Ela estava comigo. E ainda entre lábios que se abriam contentes e deixavam transparecer esmaltados dentes falei: "foi uma tarde feliz!" A conta do dia estava paga.

2 comentários:

  1. Que lindo, mão! Que orgulho! Me senti como você, ao ler o texto! Te amo, e continue sempre sempre sempre sempre escrevendo coisas tão lindas! :)

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